quarta-feira, 13 de março de 2013

Eu, bomba-relógio, me confesso...






Vou estar, praticamente, 72 horas longe do meu excelso marido. Até à data, nunca tal coisa tinha acontecido. Sim, ele já me anda a gramar há mais de uma dúzia de anos e nunca estivémos mais de 24 horas separados. E ainda ninguém enlouqueceu no processo, o que, parecendo que não, é positivo.

 
A distância, por vezes, faz com que relativizemos aquelas pequenas coisas que nos irritam tremendamente, e ao fim e ao cabo, são tão importantes como a taxa de natalidade das lesmas no Burkina Faso. E eis que consequência da referida distância do meu mais-que-tudo, fui atingida por um raro momento de sensatez e clarividência, qualidades que estão para mim, como a eloquência e um bonito penteado estão para o Jorge Jesus.

 
Venho assim por este meio elencar algumas das coisas que por norma me deixam à beira de um ataque de nervos,  com o temperamento de um Etna, em modo bomba relógio sem fio vermelho e azul que possa ser cortado. Passo a enumerar:
 
- "Amor, vem para a mesa!"/ "Já vou!" (pausa de 10 minutos e o puré a tranformar-se num iceberg) "Querido, anda lá que está a arrefecer!"/ "Sim, vou a caminho!" (pausa de 10 minutos e a minha paciência a evaporar-se à velocidade do molho do assado) "É pá, já te chamei!"/ "Ai, era agora?" ( Nota: quando é a Exa. a fazer o jantar, os convivas têm de estar sentados à mesa a aguardar o repasto, antes mesmo do tacho estar ao lume, qu' "isto é bom, é quentinho!"...)

- "Tem que se arrumar o armário..."/ "Tem que se limpar o frigorífico..."/ "Tem que se ligar para lá a marcar consulta..."/"Tem que se isto, tem que se aquilo, tem que se aqueloutro.." Traduzindo de maridês para linguagem corrente: "Tens que fazer que tens tanto jeitinho, e eu tão pouca vontadinha..." Estarão a achar que o senhor cá de casa não faz nada na própria: é mentira. Ele quando tem que fazer faz, quando quer que eu faça, diz que tem que se...

- "Vamos ver um filme,querido?"/ "Vamos, pois! Quando acabar o jogo, chamo-te!" (...) "Então, o jogo começou às 7, são 9, ainda não acabou?"/ "Tou a ver a Flash Interview, bébé!" (...) "E agora?"/ "Um resumo da liga espanhola."/ "????"/ "Ó querida, tá a jogar o Falcão!" (...) "Então, e agora?"/ "Deixa ver se o Villa-Boas se safa." (...) " Querida, é só ver as notícias do Porto..." (...,...,...) "Então, que filme vamos ver?"/ "Escolhe o que quiseres, querida, eu vou adormecer de certeza..."/ "F#$% -s#!!!!!"


E quando me pergunta porque é que eu estou a fumar outra vez, o que me dá vontade de fumar um maço antes que ele tenha tempo de dizer "o mal que isso te faz"; e quando me quer arrancar da cama "porque as manhãs são para aproveitar", e eu concordo em absoluto, são para aproveitar... para dormir; e quando me diz que não, só para não me dizer sempre que sim "senão ficas mal acostumada", e quando me diz que não me dá flores, senão "ciumenta como és, ficas a pensar que eu me meti com a secretária"...


Pois é, mas tendo em conta que estou em modo Laurindinha vai à janela, passei o dia a ouvir o "Ok Computer" dos Radiohead (desde 97 a apoiar-me nas dores de corno, cotovelo, azia e afins), vou ver "As Pontes de Madison County" pela 348ª vez, acompanhada por uma caixa de Kleenex e um bom de um tinto alentejano, venho aqui publicamente declarar que não me voltarei a irritar por estas e outras nulidades.


As saudades têm destas coisas (e o vinho também), pelo que prometo solenemente tentar domesticar este mau feitio que ando a cultivar há 33 anos, em favor de quem me deu os melhores anos da minha vida, desde que se decidiu a aturar-me.


E sobre sôdade, foi o que se me ofereceu dizer.


PS: Quando o visado ler isto (ele que me conhece melhor que ninguém) saberá, sem sombra para dúvidas, que há duas coisas que não vão mudar: o meu mau feitio, e o meu amor...
 

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