terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Já foste...








Eu sei que o desemprego neste momento é um flagelo quase tão grave como os blazers do Goucha. Que quem tem um emprego deve rezar uma Avé Maria e três Pais Nosso todos os dias, ao mesmo tempo que dá dois mortais encarpados e um flick flack de costas, como forma de agradecimento. Eu sei disso tudo.

Mas caso não tenham reparado eu sou do contra, ou então sou só parva, agora escolha (que saudades de ver a Vera Roquette, enquanto comia pão com Tulicreme...)! Por isso o post de hoje é serviço público: uma minuta para se despedirem desse emprego que vos dá o mesmo prazer que degustar um risotto de tijolos. Está por aí alguém que gosta tanto do que faz como de lamber sabão Clarim? Este post é para ti, jovem (isto soou um bocadinho a anúncio para recrutar GNR's, não foi? Cool!)!

E sobre trabalhos que nos fazem rejubilar, tal qual oito horas a rebolar numa cama de pregos, é isto que se me oferece dizer:


Exma. Entidade Patronal,

Pensei muito e tomei uma decisão. Não foi fácil, mas creio que é o melhor para os dois: quero o divórcio, quero eu dizer, apresento a minha demissão. O motivo parece-me óbvio: diferenças irreconciliáveis. 

O problema não és tu, sou eu. Sou eu que já não te posso ser fiel. Fui eu que me enganei ao longo de todo este tempo, tentando convencer-me que mesmo sem amor, quero eu dizer, vocação, poderia dar certo. Estava errada, tão errada...

Mas está na hora de acabar com este casamento de fachada, quero eu dizer, com este contrato sem termo. Não te quero magoar,mas não seria honesto da minha parte continuar a viver nesta farsa. Certamente não faltarão candidatos a ocupar o meu lugar, e dar-te-ão o devido valor.

Os meus amigos há muito suspeitavam, viam-me triste, cabisbaixa. As opiniões dividem-se entre os sonhadores e os cépticos. Uns acham que eu posso ser feliz com outra, outros acham que eu não arranjo melhor (terão também casamentos de conveniência, quero eu dizer, trabalhos que não suportam?).

Custa-me a admiti-lo, mas de facto foi o dinheiro que me moveu. Ofereceste-me estabilidade, segurança... Sem paixão, tudo não passou de uma união por interesse. De todo o modo, cumpri com os deveres celebrados no dia em que nos casámos, quero eu dizer, em que assinei o contrato. Foi um dia bonito, cheio de esperanças e sonhos, aliás, como são sempre estes dias.

Mas tu também tens a tua quota-parte de culpa. Rapidamente perdeste o interesse, e começaste a tratar-me como mais uma, e não Aquela. Fizeste-me sentir substituível, descartável, e não há mulher nenhuma, quer dizer, colaboradora, que goste de se sentir assim. 

Espero que fiquemos amigos, quero eu dizer, que consigamos uma rescisão amigável. Não te quero mal, mas já não te posso ver.


Cordialmente,


(assinatura)

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