segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Desacordo ortográfico




A minha filha, herdeira com direito a up-grade do mau feitio que (dizem as más-línguas)
me corre nas veias, disse-me algumas vezes quando a corrigia de um qualquer erro ortográfico "Mãe, porque é que eu não posso dizer como eu quero?" Do fundo da minha infinita (se calhar infinita é exagero), enorme (é possível que ainda me esteja a esticar um bocadinho), moderada (tem dias), vá da melhor paciência que eu consegui apurar respondia invariavelmente: " Filha, a língua portuguesa tem regras que devem ser respeitadas. E fazes o que eu te mando, se não queres levar um sopapo que te viro!"

E agora do alto do meu poder inquestionável de mãe (e agradecendo o facto da minha filha ainda estar sujeita ao lápis azul informático cá de casa) afirmo: "A língua portuguesa ganhou novas regras e eu vou dizer/escrever como quero!" E parafraseando a dita pequena: "Não há mais ditos até à morte!"

Sou só eu, ou nunca deram convosco a resmungar para dentro ao lerem algo em determinado jornal que encontram casualmente em cima do balcão, enquanto bebem uma bica pingada: "Estes gajos para além de desperdiçarem 99,7%  de jornal com assassinatos à catanada,  acidentes com amálgamas de aço e tripas, e o rating sexual do Cristiano "E quem será a mãe da Criança?" Ronaldo, ainda dão erros! ", e só depois vos cai a moedinha e se lembram do sacana do acordo ortográfico?

Nunca vos aconteceu? Isso pode ser: 1-para cima de espectacular; 2-nem bom nem mau, antes pelo contrário; 3- absolutamente trágico, na minha modesta opinião. Passo a explicar:

  1. Hipótese para cima de espectacular: Não passam os olhos pelo Correio da Manhã há aproximadamente 700 dias
  2. Hipótese nem bom nem mau, antes pelo contrário: o acordo ortográfico não vos dá o mais pequeno abalo ao pífaro, aliás para vocês uma onomatopeia é com toda a certeza um bicho invertebrado, e a sintaxe é um tecido algures entre o poliéster e a lycra
  3. Hipótese absolutamente trágico, na minha modesta opinião: já escrevem segundo o acordo ortográfico, sem possuirem o álibi de estarem a frequentar actualmente a instrução primária.
Quero com isto anunciar que este é o primeiro Manifesto deste blogue: A Autora deste texto (e dos que estarão para vir, assim a crise não me lixe de tal forma o orçamento, que eu tenha de cortar a MEO) não escreve segundo o Acordo Ortográfico!

Parafraseando esse célebre vulto da música popular portuguesa e do Louro Platinado nº 7: "Podes ficar com as jóias, o carro e a casa, mas não fiques com ele!"

Ele, o Português: a nossa língua é a única possibilidade desta vossa humilde serva partilhar algo com o Eça de Queirós, com o  Fernando Pessoa. Doutra forma só se deixar crecer o bigode, e o meu matrimónio é capaz de se ressentir um nadinha com isso.

E sobre o acordo ortográfico, é o que se me oferece dizer.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Licença para arrumadores


Estou deliciada com a seguinte notícia: "A Câmara Municipal de Faro quer profissionalizar os arrumadores, atribuindo-lhes uma licença e forçando-os a inscreverem-se nas Finanças e a pagar impostos."

A primeira coisa que me vem à mona assim de repente é: MACÁRIO, MACÁRIO!!!
Macário Correia, actualmente presidente da Camâra de Faro, nunca me desilude. Macário não falha. Sempre uma abordagem fresca, arejada aos problemas que assolam o país.

Já que não "conseguimos" apanhar os tubarões, apanhamos os jaquinzinhos: dada a improbabilidade de sucesso de fazer cumprir as obrigações fiscais e evitar fraudes por parte dos vulgos "Cabeçudos" que pululam neste jardim à beira mar plantado, atacamos a base da pirâmide -  com apenas 157.243 arrumadores, tapamos o buraco da agência do BPN de Carrazeda de Ansiães.

Partindo deste princípio, prevê-se que venham a emitir licenças para outras actividades, das que fazem tanta falta à sociedade, como o Bettencourt ao Sporting. A saber:
  • Licença de Comentador do caso Castro-Seabra: traduz-se em afirmar invariavelmente uma de duas coisas: o cronista/Airbreeze da Broadway era um homem de paixões ou o modelo/Psycho além de ser uma pessoa fantástica, era o Zézé Camarinha de Cantanhede
  • Licença de Membro do Clã Jardim, que pelo que me parece, é uma profissão em si mesma: tem com senão ter de usar um nome digno de um chihuahua
  • Licença de Relações Públicas de espaço nocturno balnear algarvio com nome de stripper moldava: as portadoras desta licença devem ter sido objecto (objecto é mesmo o termo adequado)   de cirurgias estéticas à borla  testemunhadas/fotografadas/televisionadas/esmiuçadas pela imprensa cor-de-rosa e programas da manhã congéneres
  • Licença de José Castelo-Branco: vou-me escusar a mais comentários, o teor humorístico esgota-se na referência do transgénico acima referido
Concluindo, Macário Correia é uma fabuloso exemplo de criatividade autárquica. Depois de ter comparado um beijo a uma mulher fumadora a lamber um cinzeiro, o Sr. Presidente não deve seguramente levar a mal se eu comparar a experiência de o ouvir a um concerto do Zé Cabra.

E sobre a licença para arrumadores, é o que se me oferece dizer.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Para começo de conversa





A grande inauguração, o corta-fita, o primeiro post... O cursor está a piscar como se não houvesse amanhã, a pressão é enorme, e tudo está por definir.

O sucesso ou o fiasco deste primeiro texto vai definir se este meu espaço está  destinado ao Wall of Fame dos Blog's ou à mais obscura das sarjetas.
O pânico, a tragédia, o horror (Que saudades, Albarran! Quando o caso prescrever, aguardamos-te de braços abertos), o téfe-téfe de uma má crítica.

Sim, eu sei que isto já é uma perspectiva optimista. Estou a partir do pressuposto que alguém vai ler estas linhas, para além do sr. meu marido (que o faz sob pré-aviso de greve de leito).

A escolha do tema é crucial, fulcral. Tem de ser algo importante, relevante, que atinja os vários segmentos-alvo:
  • Viciados em passatempos ( daqueles que gastam 178 euros em telefone mais IVA, para ganhar um vale de 10 euros numa retrosaria que fica a 263 km de casa) que assim que viram a palavra "oferece" vislumbraram a possibilidade de uma borla
  • Emigrantes/ estrangeiros que ainda não dominam a língua, analfabetos, o Jorge Jesus
  • O Prof. Marcelo Rebelo de Sousa ( acho que ele lê qualquer coisa que se atravesse à frente dele, chegou a sugerir a omoplata do Raúl Meireles como livro da semana)
  • O eleitorado do candidato Coelho
  • Bróculos, alforrecas, a Luciana Abreu
Se fazem parte deste grupo de felizes contemplados, P-A-R-A-B-É-N-S (se calhar falei muito depressa). Caso contrário, estão sempre a tempo de fazer uma lobotomia. Ouvi dizer que há um sítio ali para os lados de S. Bento que as faz baratinhas. Acho que oferecem um cartão de militante do Partido Nacional Renovador, no pacote.

E para começo de conversa, é o que se me oferece dizer.